terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pela alimentação boa, limpa e justa

Por Marina Vieira
Embora o ato de alimentar-se seja uma das atividades mais essenciais a muitas formas de vida, é também um complexo item cultural que revela muito sobre os povos humanos, guardando estreita relação com os respectivos históricos. Essa atividade cotidiana reflete os padrões culturais, a economia e a política, a disponibilidade e os usos dos recursos naturais e, como não deixaria de ser, é passível de mudanças. Acontecimentos como a domesticação de espécies, a Revolução Industrial e a Revolução Verde foram cruciais na formação de uma presente ordem global do sistema alimentar.
A massificação da produção e a padronização dos modos de vida no mundo causaram alterações no sistema alimentar das mais tradicionais comunidades às mais cosmopolitas. Para chefes, gourmets, gourmandises e apreciadores de vinhos pode parecer irônico, mas a verdade sobre o panorama da alimentação atual mostra cada vez mais pessoas comendo como um simples ato fisiológico obrigatório e as divinas tarefas de comer e beber desassociadas do prazer, da diversidade cultural, da qualidade nutricional e ambiental. E muitos seres que se dizem pensantes, já nem sequer pensam e questionam suas escolhas alimentares.
Graças à saudável rebeldia de um grupo de amigos, hoje há um movimento internacional que alerta sobre esse desperdício de prazeres e valores que acomete o mundo. Encabeçado por um dos fundadores, Carlo Petrini, o Slow Food surgiu na Itália para defender os prazeres à alimentação frente ao boom dos fast foods, o que implica na valorização da diversidade cultural, no uso sustentável dos recursos, na produção de alimentos de qualidade e na justa comercialização dos mesmos. Essa mistura de ingredientes filosóficos foi o que Petrini convencionou chamar de ecogastronomia.
O Slow Food prevê uma alimentação boa, limpa e justa. Boa por ser segura e saborosa, limpa por ser produzida de forma que não degrade os recursos naturais e nem a vida humana e justa por valorizar adequadamente o trabalho dos produtores e as economias locais. O trabalho é feito no sentido de defender a diversidade biológica e cultural, difundir a educação do gosto e conectar produtores de alimentos de qualidade com os consumidores.
Dentre suas ações estão eventos internacionais que unem comunidades produtoras de alimentos, chefes de cozinha e representantes acadêmicos do mundo todo, a fim de discutir questões da alimentação de hoje, trocar experiências e elaborar estratégias educativas e de promoção e proteção dessas comunidades e seus respectivos produtos. Acredita-se que todos têm um direito fundamental ao prazer, e também a responsabilidade de proteger o patrimônio gastronômico, as tradições e a cultura que tornam esse prazer possível.
Dos objetivos da associação nasceu a ideia de comunidade do alimento e a ideia de formar uma rede mundial dessas comunidades, que foi chamada de Terra Madre. A Rede Terra Madre é formada por comunidades, jovens, cozinheiros, universidades empenhadas em salvaguardar a qualidade das produções alimentares locais e tradicionais. Desde 2004, o Slow Food apoia a rede, através de um encontro bianual, que ocorre em Turim, onde delegados do mundo todo se conhecem, debatem temas em comum, trocam experiências e vivenciam atividades educativas que ajudam a fortalecer as lutas de cada comunidade em seu respectivo contexto.
Embora esteja presente em mais de 130 países, as ações do Slow Food e da Rede Terra Madre ainda são pouco expressivas se pensarmos na estimativa de que há perto de 7000 espécies subutilizadas e que muitos governos fecham os olhos a tantos produtos nativos em favor da produção dos comercialmente cobiçados, soja, trigo, milho, cana e arroz. Sem desprezar o arroz com feijão nosso de cada dia, que sustenta milhões de brasileiros e é o binômio mais característico da cozinha nacional, mas imaginem só quantas preciosidades gastronômicas passamos desapercebido, quantos tubérculos, adocicadas batatas, ardentes pimentas, ervas, suculentos frutos nativos, moluscos e pescados. Pense sobre o que te alimenta e sinta-se convidado a conhecer essa comunidade mundial!
Participação da Comunidade Caiçara da Enseada da Baleia e Colônia de Pescadores Z-9
A Comunidade Tradicional Caiçara da Enseada da Baleia e a Colônia de Pescadores Z-9 “Apolinário de Araújo” participaram do Expo Móvel da América Latina representando, ainda, o Vale do Ribeira no evento internacional do Salone del Gusto e Terra Madre em Turim na Itália, por Tatiana Cardoso e Marina Vieira.
O evento, segundo Tatiana, é uma maneira de reunir e mobilizar a população e o mundo para a preocupação com uma alimentação correta; são feitas conferências que reúnem empresários e associações que buscam soluções para vários problemas que acontecem ao redor do mundo.
O material informativo da Colônia de Pescadores de Cananéia e o artesanato do Grupo das Mulheres Artesãs da Enseada da Baleia estiveram presentes no evento.

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